QUINZE DIAS - Crônica

Equipe Editorial
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Imagem: Freepik

Era uma terça, ou quinta, ou sábado. Não sei! Era um desses dias monótonos que se assemelhavam com o final de tarde de um domingo. É, era isso. Eu parecia estar preso no tédio de um domingo solitário, vazio e estático, daqueles que você só consegue procrastinar e se sentir inútil. Na esperança do tempo passar, dormi. Acordei mais uma vez sem conseguir distinguir o dia, preso naquele eterno domingo enfadonho. Era o início dos 15 dias...

Eu parecia aquelas crianças que os pais impedem de brincar na rua com os coleguinhas e fica a observar toda a movimentação pela janela. Mas dessa vez não havia movimentação na rua, nem pessoas, nem carros, apenas vultos frutos do Déjà vu apresentado pela minha memória. Embora eu já tivesse crescido e a infância se tornado a minha maior saudade; naquele momento, essa saudade imensa se dividia. Sentia saudades da vida automática que eu tanto reclamava, da faculdade, do meu emprego, do busão lotado e do barulho da vida na capital. Saudades do calor humano.

Afastado de tudo, me tornei amigo das telas frias. Era através delas que eu trabalhava, converti as minhas atividades cotidianas e recebi a orientação para o meu TCC. Era por telas frias que eu via o rosto dos meus queridos e, mesmo sem o calor humano, nos conectávamos. As telas frias deixaram de ser um entretenimento e se tornaram uma necessidade.

No meu quarto há 110 azulejos. Sim, eu contei! Tentando fugir do tédio e da solidão, testei novas receitas, tentei pintar, praticar yoga e até mesmo uma horta no fundo do quintal eu plantei. Inclusive, ainda estou colhendo bons frutos não só da minha horta, como também do autoconhecimento que adquiri durante esse processo solitário.

A corrida deixou de ser contra o tempo e começou a ser contra a solidão. Hoje, quase um ano após o início da quarentena, que cheguei a acreditar que duraria apenas 15 dias, pouca coisa mudou. Algumas flexibilizações, mas continuo em casa, dentro de um eterno domingo, nos 15 dias que parecem ser infinitos. Agora, por exemplo, além de todas as demais saudades, também sinto das pessoas que não posso mais ver pelas minhas companheiras telas frias. Sim, eu perdi alguns queridos para a pandemia.

Autora
Priscila da Costa Ferreira é graduanda em Letras com ênfase na área de Língua Portuguesa e Literaturas pela Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT), campus de Araguaína, unidade Cimba.

FERREIRA, Priscila

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