A DISTÂNCIA ENTRE NÓS - Crônica

Guilherme Silva Vanderley
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Dentro dos olhos dela, enxergava-me desesperado, agonizando em sofrimento e dor, sentimentos em confusão, altas proporções de angústia que me tomavam o corpo e a mente. Uma verdadeira pandemia dentro de mim. Era dessa forma que me sentia naquele dia, no qual a encontrei no banco daquela praça, a duas ruas do centro da cidade, de certa maneira, afastados do grande fluxo de pessoas que caminhavam para todos os lados procurando refúgios seguros que pudessem protegê-las. Contudo, escondi bem esses sentimentos dentro de mim, e aquela proteção que todos buscavam, encontrei no colo aconchegante do amor que tenho por ela, no abraço quente que me presenteou, no cheiro doce que nasceu em nosso beijo.

Naquele dia, os jornais não paravam, a televisão não apresentava nada além daquilo, os grandes líderes falavam a todo instante. Porém, eu só pensava nela e nas palavras que ela havia dito naquela ligação que durou horas pela madrugada do dia anterior. Nessa conversa, ela disse amar tudo em mim, disse me querer até o fim, disse me ter em mente a todo instante e depois disso me convidou a vê-la naquela praça, embora o noticiário dissesse que não saíssemos, “fiquem em casa” era o recado a todo momento. Mencionei isso a ela, disse também haver um perigo pelo ar, mas ela persistiu e aos poucos fui cedendo ao encontro, pensando comigo mesmo, “não posso deixar de vê-la, temos tão pouco tempo”. Era verdade, pouco víamos um ao outro e, além disso, a minha paixão já me controlava. Quando a vi se aproximando, olhei fundo nos seus olhos e senti que o mundo inteiro desaparecia.

Em tal contexto, não usávamos máscaras ou nenhum outro tipo de proteção, afinal a nossa segurança era o abraço, no qual nos enrolamos um ao outro e deixamos o frio de lado para nos observar apaixonados. Além do frio, que apaziguou, havia outras poucas pessoas naquela praça, elas nos olhavam assustadas. Entretanto, nem ao menos ligávamos para os olhares dos curiosos, aquele era o nosso momento, falávamos sobre o futuro e planejávamos viagens juntos. Naquele cenário, pensávamos somente em nós mesmos. Todavia, depois de horas de conversas, de carinhos, de abraços e beijos, nos despedimos. Ela subiu a rua olhando para trás, não querendo abrir mão daquele instante, por outro lado, eu caminhei depressa e agoniado, pois algo me sufocava.

Ao chegar em casa naquele dia fui direto ao quarto e não liguei para os comentários turbulentos que me falaram, pois o cheiro dela que ficara em mim era o suficiente para inutilizar os meus demais sentidos. Eu não ouvia, não falava e dali a dias também não pude respirar, estava contaminado. De forma semelhante ela também foi vítima da nossa paixão, esteve de cama por alguns dias, sentiu dores por todo o corpo, me ligou desesperada mais de uma vez. Porém, a sua suave voz falhara e já não tinha, de outrora, o mesmo encanto. Não demorou muito para que ela fosse às pressas para o hospital. Não pude vê-la, tampouco tocá-la, não pude sentir o seu cheiro e nem ao menos beijá-la uma última vez. E somente hoje, um ano após perdê-la, posso está aqui ao seu lado, pedindo-lhe desculpas por amá-la demais.

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