A MIRAGEM DO CERRADO - Cordel

Guilherme Silva Vanderley
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À direita desse Rio
desse estado abençoado
avistei uma miragem
que deixou interessado
tinha curvas sinuosas
bem ali do outro lado.

Aproximei à beira rio
e fiquei mais intrigado
o que será que há por lá
bem ali do outro lado
me ajeitei numa carona
não esperei outro chamado.

Junto de um parceiro
me desloquei atordoado
pensando comigo mesmo
o que há do outro lado
mas enquanto viajava
aproveitei o tal cenário.

De um lado tinha água
e do outro mais ainda
ao fundo só paisagem
uma vista tão infinda
o verde que contrastava
deu mais cor à vista linda.

O passeio durou pouco
foi miado e muito breve
mas encantou meu olhar
me deixou sereno e leve
e ainda mais empolgado
como nortista na neve.

Na beira do mesmo rio
ao chegar do outro lado
o calor não aumentou
mas olhei impressionado
estava tão perto dela
a miragem do cerrado.

Embaixo de outro sol
pois estava eu agora
distante de outros dois
que avistara outrora
na cidade de onde vim
terra de Nossa Senhora.

O calor que eu senti
ali perto da miragem
quase que me cegou
e me tira com maldade
a beleza de a conhecer
um pouco naquela tarde.

Apressado eu estava
chamei o companheiro
pegamos nossas trouxas
e seguimos um trilheiro
fomos fazer morada
perto de um pequizeiro.

Debaixo daquelas folhas
nos sentimos tão em casa
lá o apreço foi enorme
o aconchego ali reinava
uma gentileza tão bela
algo que nos fascinava.

O lugar onde dormimos
tem um nome interessante
é um brejo bem pequeno
de beleza estonteante
seu acesso é uma ponte
que nos leva num instante.

Outro dia pela manhã
a miragem me acordou
logo cedo, sem aviso
da cama ela me tirou
me levou em um destino
bem longe de onde estou.

Subi no pau de arara
sem saber pra onde ir
e o vento que me batia
começou a me sorrir
forte golpe em meu rosto
eram os galhos por aí.

Essa viagem tão distante
que horas dentro se passou
me levou a um lugar
que muito me enfeitiçou
sua grandeza era linda
sua água me banhou.

Me senti alí tão leve
uma paz no coração
perdido em uma mata
no meio do Maranhão
e o vento me trazendo
as águas de São Romão.

A natureza foi bondosa
esculpiu com o coração
os detalhes daquela arte
toda aquela imensidão
cachoeira e suas rochas
num estado de paixão.

Toda a mata ao redor
preenche bem o ambiente
o verde é quem ilumina
o azul tão transparente
o céu desce nas águas
num reflexo aparente.

A despedida do encanto
não foi triste logo digo
subir aquela escada
me trouxe até um alívio
tinha visto tão de perto
um pedaço do paraíso.

O caminho pela volta
foi regado a cantoria
a paisagem era linda
me rendeu uma poesia
os morros, os portais
a chapada que sorria.

Aquela terra era cheia
de diversas naturezas
muitos brejos e chapadas
a caatinga e sua beleza
o cerrado que domina
mostrando a sua pureza.

Ao longe era possível
até campos avistar
mas o solo é argiloso
estava ali para negar
seus aspecto arenoso
também veio me falar.

Que a terra que vejo
é diversa como feira
tem frutos dali nativos
como jatobá e aroeira
a sucupira, o tamburi
todo tipo de madeira.

Se o calor tiver ardente
e quiser se refrescar
tem sorvete de buriti
açaí, bacaba e cajá
mas se o suco preferir
o caju não vai faltar.

Mas conto de outro dia
que a miragem me levou
em outro pedacinho
do paraíso que restou
andamos pouco dessa vez
ela logo nos encontrou.

Ela é uma paisagem
a mais bela que pude ver
eram duas quedas d’água
semelhantes ao envolver
meus olhos no cenário
com vontade de viver.

Sempre naquelas águas
onde pude presenciar
as Gêmeas do Itapecuru
vir aos pés devagar
ao rosto serem trazidas
bem de leve pelo ar.

O cheiro da natureza
os sorrisos por todo lado
as águas claras e rasas
me deixam alucinado
fotografei nas retinas
um pedaço do cerrado.

Esse lugar que vos falo
um santuário cultural
de início já nos mostra
uma piscina natural
seu formato tão singelo
de beleza escultural.

Ao descer os degraus
o barulho vai chamando
a imagem se abrindo
as folhas nos guiando
e o brilho nos sorrisos
ao arco-íris se juntando.

Mas poderia eu ficar
aqui horas descrevendo
todos os detalhes
que na mente vou revendo
me despeço da gêmeas
pois o espaço é pequeno.

Um outro dia nasceu
cheio de muitas cores
antiguidades tão meigas
nós, como dois atores
interpretamos o cenário
escrevendo como autores.

As casas belas, coloridas
de janelas enfeitadas
plantas por todo canto
regiam o cheiro da estrada
nossos olhos esbugalhados
de visão compenetrada.

As cores nos guiaram
pela calçada ladrilhada
com bancos de madeira
de uma época passada
refletores iluminavam
nossos pés pela estrada.

Monumentos eram tantos
uma igreja lá no fundo
tinha um arco, o obelisco
uma maravilha do mundo
o brilho em nosso olhar
era forte e profundo.

As palmeiras ao redor
aquela fonte dos desejos
suas águas refletiam
a história em lampejos
é um cenário perfeito
do apaixonado beijo.

O cenário de arco-íris
e de cores tão diversas
vivas e estonteantes
bela como uma conversa
sobre amor, sobre paixão
um romance que começa.

Dali a pouco despedimos
do lugar onde ficamos
por horas sem fim
as belezas só olhando
fotografando com olhar
cada instante se passando.

Não demorou a despedida
foi então por completo
era a hora de partir
deixar atrás o descoberto
seguir mais uma vez
nosso caminho aberto.

Mas antes de partirmos
uma vista apreciamos
muitas cores do outro lado
do lugar que tanto amamos
nosso destino de volta
pela manhã enfrentamos.

O caminho pela volta
foi de grande alegria
no rosto, um sorriso
na caneta, uma poesia
pela janela, um olhar
carregado de euforia.

A memória não a deixa
partir com a despedida
pois o amor já é firmado
foi apenas uma partida
e digo mais sobre ela
a tal miragem bendita.

Muito bela e atraente
era a doce da miragem
encantou já de início
como bela paisagem
mereceu todos os versos
uma breve homenagem.

A miragem que me levou
a mais bela das meninas
uma moça que enfeitiça
uma mulher pequenina
a deusa de belos traços
tem o nome Carolina.

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4Comentários

  1. Que lindo, Gui! Fui lendo e fazendo o percurso junto com você. Lembrando dos detalhes da minha amada Carolina.

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    1. Aaa isso me deixa muito feliz. Que bom que gostou, muito obrigado!❤️❤️

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  2. Estou encantada com a beleza poético do cordel "A miragem do Cerrado". Guilherme, você tocou minha emoção com a profundidade com que revela miragens tantas, além de uma miragem escolhida. Parabéns e obrigada por cantar poeticamente o nosso cerrado!

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    1. Seus comentários sempre me enchem de alegria. Muito obrigado, fico imensamente feliz que tenha gostado!❤️😊

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