A ÚLTIMA DANÇA DE LIONEL MESSI - Crônica

Guilherme Silva Vanderley
1

Ontem foi dezoito de dezembro de dois mil e vinte e dois, assim mesmo, em palavras, não em números, pois os números somente apontam os resultados parciais ou finais, jamais conseguem mostrar o que de fato é o acontecimento. E por falar em acontecimento, ontem assisti ao maior jogo da história das Copas do Mundo de futebol, Argentina versus França. Um jogo que me trouxe a sensação de estar vendo uma dança, a última dança de Lionel Messi, da melhor forma possível: dois gols, um passe decisivo e a liderança que somente um gênio consegue ter.

Lionel Andrés Messi Cuccittini, no auge dos seus trinta e cinco anos, jogou a copa que merecia por tudo que fez ao futebol mundial. Vencedor de quarenta e dois títulos na carreira, Messi chegou ao patamar mais alto, ao panteão dos campeões do esporte. Há quem diga que os próprios deuses do futebol lhe deram esse título, mas a verdade é que o argentino de Rosário é o próprio Deus. Esplendoroso, genial, incrível, inigualável, não há palavra alguma que possa o descrever dentro dos gramados.


No ano em que os brasileiros sonhavam com o hexacampeonato, assistiram de pé, e com aplausos, no estádio Lusail, no Qatar, los hermanos vencerem o mundial. Depois da frustração na Copa no Brasil, oito anos atrás, Messi chegou novamente à final do campeonato mais disputado do mundo. Chegou e logo foi ao chão, derrota vergonhosa para a Arábia Saudita, primeira rodada. Depois disso, sufoco contra o México e a Polônia, mas, enfim, a classificação para as oitavas de finais. O adversário? Austrália.

A Albiceleste venceu e avançou para as quartas de finais, jogo difícil contra a Holanda, um empate doloroso no final do jogo levou a disputa aos pênaltis e, então, lá estava a Argentina nas semifinais. A Croácia que havia despachado o balé brasileiro em um jogo marcado por falhas canarinhas era a adversária dos discípulos de Maradona. Mais fácil, impossível, os argentinos bailaram sobre os croatas, em um jogo no qual transpareceu não somente a superioridade dos sul-americanos, mas também as fraquezas do carrasco brasileiro.

À frente, não restava mais ninguém, a não ser a poderosa e favorita França, de Kylian Mbappé, que, aos vinte e três anos, jogou a segunda final de copa do mundo. E que final foi essa do jovem revelado pelo Mônaco e destaque no Paris Saint-Germain. Mas, do lado de cá, além de Messi e Di Maria, havia um guarda-redes sensacional, Emiliano Martínez, o nome do título da Copa América sobre o Brasil, voltou a brilhar no Qatar. E que disputa foi aquela entre o jovem francês e o provocador argentino. Os números diriam que Mbappé foi o vencedor, quatro gols na rede do goleiro, três pênaltis cobrados no mesmo canto. Martinez não viu a cor da bola.


Mas como não é somente Kylian do lado dos franceses, Martinez pegou tudo o que passou à sua frente dos demais rivais Les Bleus. Já no primeiro tempo de jogo, o domínio argentino parecia longe da realidade: em pênalti, Messi, com frieza, abre o placar, logo depois, a Albiceleste amplia com gol de Di María, que já havia sofrido o pênalti. A segunda metade do jogo, ou melhor dizendo, um novo jogo, no qual os franceses retomaram a confiança com absurdos dois gols de Kylian Mbappé, um em cobrança de pênalti, e menos de dois minutos depois, um chute forte, de primeira, no canto de Martinez. Estava decretada a vitória do ballet francês?


Era só uma questão de tempo, faltavam poucos minutos para o fim da partida, franceses no ataque e desespero argentino. Então, prorrogação, mais trinta minutos. Para os europeus, a chance para uma virada histórica; para os latinos, a chance de retomar o jogo proposto no início e quebrar o jejum de trinta e seis anos sem Copa do Mundo. Gol, Messi é oportunista e, dentro da área faz o segundo dele no jogo e o terceiro dos agora discípulos de Leo. Mas a alegria durou pouco, gol dos franceses, de pênalti, ele, Kylian finaliza Martinez, que novamente toca na bola, porém não impede a glória do jovem francês.

Disputa de pênaltis, de um lado um exímio cobrador, o francês, camisa número dez, já campeão do mundo, do outro lado, Lionel, o maior jogador de sua geração. Embaixo do travessão, havia de um lado Hugo Lloris, de outro, Emiliano Martínez. Que comece a dança. O melhor de cada seleção bate o primeiro, gol para ambos. Depois disso, o provocador que vestia uniforme esverdeado, entrou na cabeça dos jovens franceses. Pegou um e viu outro caminhar lentamente ao lado da trave, para fora. Do lado dos hermanos, tudo correto, bola na rede. Por fim, Gonzalo Montiel, o lateral-direito que, anteriormente, colocou o braço na bola e deu de presente um pênalti convertido por Kylian, foi o nome da cobrança decisiva. O jogador de apenas vinte e cinco anos tirou a camisa em passos lentos rumo à glória eterna.


Messi ajoelhou no centro do gramado e sentiu o abraço dos companheiros. E como se fosse um passe coreografado milimetricamente, la danza dos argentinos e os gritos da torcida entraram em sincronia perfeita. Já não existia a história das copas sem um Lionel Messi levantando o troféu mais cobiçado do futebol. O homem que trouxe, em menos de dois anos, três títulos para o seu país, agora vive entre os demais deuses como Diego Armando Maradona, que, não viu em vida os títulos de Messi pela seleção, mas sempre o apoiou, sempre viu no baixinho de Rosário o mais alto nível da história do futebol. Agora, não há Maradona à sua frente, ou Ronaldo, brasileiro ou português, que possa questionar a sua liderança. No futebol, temos um Rei, temos profetas, maestros e robôs, mas, no alto do maior trono, daquele panteão dos gigantes, a coroa de Lionel Messi é a que mais brilha no salão do futebol. Como foi lindo te ver dançar, Leo.

Postar um comentário

1Comentários

  1. O que achou da crônica? Em breve, haverá mais no blog. Mas, enquanto isso, leia as outras clicando em "Crônicas" no menu. Obrigado!

    ResponderExcluir
Postar um comentário

#buttons=(Ok, vamos lá!) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Políticas de Cookies
Ok, Go it!