A PONTE CAIU E O TEMPO PAROU - Crônica

Guilherme Silva Vanderley
3 minute read
1

Lá onde eu vivo, a ponte veio abaixo, as fortes chuvas a derrubaram, e esse caminho que me ligava ao mundo já findara. Não digo que não tentei pela tal ponte transpassar, mas a barreira de concreto, colocada frente ao prédio, não me deixou olhar aquele mundo novamente. Então me recolhi, me deitei no meu sossego, pois o trânsito já não existe e o silêncio já domina. Passei um tempo estudando várias formas de passar: pelo lado, por debaixo ou voando pelo ar. Mas, a ponte intransponível não permite fraquejar. Mesmo caída.

Então, eu voltei a deitar no meu sossego, devagar, pensando comigo mesmo outras formas de passar. Enquanto isso, o tempo voa, vai voando pelo ar, passando pela ponte sem nem ao menos esbarrar. Forte tempo que não para, para os lados de lá. Do outro lado daquela ponte, cá onde vivo, ouvi falar, que o tempo, ele não para, para a ponte levantar.

E nessa de olhar sobre a ponte, a sonhar, pude me questionar, se é mesmo o tempo que não para ou se não paramos pra pensar, que enquanto o tempo passa, ficamos parados em pontes quebradas, em barreiras tão altas que nem pensamos em voltar, parar um pouco e repensar, dar a volta pela rua de cima, aquela onde os garotos brincam com a bola, quebram as janelas e tocam as campainhas.

Para onde eu quero ir? Se não sei para onde a ponte vai, se o mundo é tão grande, quantas pontes há por aí? Quer saber, vou mesmo é entrar, mais chuva está por vir, outra ponte pode cair, e eu não quero estar em cima, ou embaixo, nem quero ver mais um desastre. Eu quero mesmo é ir ao meu quintal, olhar a lua e as estrelas. A noite está linda, o céu cintilante ilumina os nossos olhos apaixonados.

Estamos ela e eu, molhados pela chuva do chuveiro, entrelaçados em um enlace forte e resistente. Pensando diariamente: quanto tempo para consertar a ponte? Isso pouco importa, agora que estamos aqui, somente ela e eu, olhando o reflexo que o reflexo do brilho do olho de um reflete no reflexo do brilho do olho do outro. Engraçado, um trava-língua. Um beijo quente. O amor está no ar, no ar que o tempo voa, sobre a ponte caída.

Mas, e se eu parar o tempo, sério, eu fico me perguntando: se eu parar o tempo, quanto tempo o tempo dura, nesse estado de ternura, naquele instante em que ficamos, ela e eu, um olhando para o outro, e sem saber, mesmo aos poucos, quanto tempo é o bastante para medir o nosso amor? Pelo outro e pelas pontes.

Postar um comentário

1Comentários

  1. O que achou da crônica? Em breve, haverá mais no blog. Mas, enquanto isso, leia as outras clicando em "Crônicas" no menu. Obrigado!

    ResponderExcluir
Postar um comentário

#buttons=(Ok, vamos lá!) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Políticas de Cookies
Ok, vamos lá!