
Pediu socorro na hora em que o silêncio tomou conta do ambiente sombrio e frio, no qual, esguio, fincou os olhos no laço acima, o que montou para ser feliz em outro canto, além daquele sombrio e frio. Outros cantos ouviria em outro canto mais feliz. Assim seria se o enlace, então, certeiro, o amarrasse por inteiro, nesta vida, um passageiro que já desceu em sua parada.
Passou então pela garganta, arranhando as cordas vocais, distorcendo a imagem que se tem. O enlace foi um grito ecoando em locais, nos quais os ecos do silêncio não transpassam os ambientes. Eles morrem no escuro, sem ver a luz do dia. Nem correndo se tem mais o calor que então se tinha.
Pobre era o seu quarto, suas paredes rebocadas com poucos traços de um ser tão amargo só por ser só mais um dentre tantos que já foram cantar por aí. Sorrisos e olhares, dentro deles nada mais que uma parede rebocada, atrás dela somente outra e mais outra e outra parede rebocada, com suas marcas de bater.
Pancadas sobre então poder pensar quem foi aquele em que o enlace assim pegou, distorceu, amassou e jogou por fora, sem que percebamos, pouco a pouco. Só mais um que mesmo a pressa, a corrida e as cordas não foram capazes de resgatar. Pressa. Nem ela, nem outra se não ela.
Pressa por ser tudo. Por atravessar a rua sem olhar, por cantar sem decorar. Pressa em ter o mundo em suas mãos. Depressa, abram a porta, desfaçam o enlace, peguem nos braços o teu grito de socorro, que foi ouvido sem pressa. Estávamos com pressa demais para parar, desacelerar e ouvir.
Palavras e mais palavras não conseguem nunca dizer o que se passa toda hora antes de ver tudo passar por um enlace a prender. Cada um com um olhar, cada um com um suspiro, cada um com um temor. Quem é? Não sei. O levaram com pressa, o enterro já é hoje à tarde.

Este obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição - CC BY-NC-ND 4.0.
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