Por aí andam a dizer que tudo é efêmero. Discordo. Não acho que o seja. Penso eu que o tudo já é muita coisa e que o tudo não pode ser medido ou medidor de coisa alguma. E por que o seria? Se nem ao menos sabemos quanto há em um tudo, e quantos o quê? e quantos tudos há por aí? Bom, eu discordo de tudo.
Fiquei me questionando sobre como o tempo passa para as coisas do mundo. Mas tanto já escrevi sobre o tempo que, então, decidi não mais focar o meu olhar ao tempo como se um relógio o definisse. Vou transgredir, ser disruptivo e inovar. Vou falar, pois, da efemeridade. Afinal, tudo passa? E passa para onde? E passa por quê?
Ando a estudar sobre a memória, o esquecimento e a história. Temas interessantes para nos deixar completamente loucos. Então, se tudo pode ser esquecido, como fugir à regra e manter-se vivo na memória de todos? Penso em escrever o próximo romance do século, como diria Duvivier. Mas como se escreve um romance? Penso em criar outros eus, espalhá-los pelos cantos, como faria Pessoa. Mas quantos de mim necessários seriam para, no mundo, me fazer imortal?
Será que vou ser esquecido ou será que já ninguém sabe quem sou? Mas se não soubessem, quem é que me segura no colo? Quem é que me chama na chegada da escola? Presente. Quem me controla no trânsito? Atrasado. E na faculdade, quando cheguei, quem me aprova? Notas tu que ando sendo lembrado, em choros, nomes, faixas e números.
Mas quanto durará até que eu não persista mais e chegue ao limite da memória de todos, e aí todos já não lembrem de mim? Pronto, já deu, não queremos mais lembrá-lo, nem mesmo chamá-lo, não vamos dar-lhe um número. Todos, esqueçam-no agora mesmo! Tudo é efêmero. Ele passou dessa para uma melhor ou pior, quem sabe?
E aí é que deixo o tal pensamento: e se eu morri, se me esqueceram e me apagaram da memória, do interior dela, consciente ou inconscientemente, diga Freud, não me tenho em lugar nenhum, não me sou nem aqui, nem ali, nem acolá. E então quem dirá, de qualquer lugar, no tempo e na história, que eu já algum dia pude existir? Como podem me esquecer, se nunca fui lembrado?
Logo, se não existo, nunca existi, nem existirei, não posso ter sido esquecido, não posso ter passado, seja lá para onde for. O total esquecimento é uma morte lenta e tão passageira. O que já esquecemos ninguém pode lembrar. Se o efêmero nunca existiu, como pode o tudo ser assim tão efêmero? Portanto, quando morrer, posso não ser esquecido, posso até viver por muitos mais anos. Mas quando eu de fato morrer, nunca terei vivido.
E por que parágrafos tão curtos? Pressa. Preciso escrever a próxima crônica do século…

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