A INSPIRAÇÃO DE UM DOMINGO - Crônica

Guilherme Silva Vanderley
1
"Tédio", por Arthur Schopenhauer

Há semanas, não vejo pairar sobre mim um ponto minúsculo que seja de um resquício ínfimo de uma pequena fagulha de uma migalha da poeira de uma átomo de uma inspiração. Avareza intelectual, poética e literária. Uma verdadeira ressaca constante que não cessa e não descansa. Difícil. Eu queria poder escrever semana após semana um desses textos que ensinam por aí se tratar de uma crônica. Uma palavra bonita, quem nem ao menos sei a origem. Fato. Talvez seja somente um texto escrito enquanto faço o que todos fazem quando se enchem de salgadinhos e de café.

Talvez seja aquela crônica que busco escrever. A tal crônica do século a qual me referi. Aquela crônica na qual todos fincarão os olhos, e olharão, atordoados, assustados, embasbacados, tamanha é a imensidão. Tamanha é a genialidade. Uau, uau, que crônica, que texto. Espetacular, escatologicamente genial. Como escreve esse rapaz, hein. Entreguem a ele o título de cronista do ano. Ele merece. Mas, hoje, hoje não é o dia. Hoje, essa crônica não nasce. Hoje é domingo, e, assim, são os domingos.

Dias de sono prolongado, demorado, às vezes, cortado por um mal sonho, no qual os monstros lhe atacam e atacam cada vez mais. Rosto prensado, marcas e marcas. Cabelos sem forma, esvoaçados. E o calor escaldante de um bairro quente, no alto de uma cidade quente, no estado mais quente de um país tropicalmente quente. Volte aqui. Acorda de uma vez e escove os dentes, olhando ao espelho o medo de mais um dia de domingo.

A cama desarrumada permanece até a segunda pela manhã, quando novamente desarrumada permanece outra vez. E assim se segue em infinita repetição. Domingo, a tua trilha sonora faz o rock ficar chato, o MPB, extremamente agitado, o sertanejo permanece como é, intragável. O jazz perde o seu ritmo. O pop, que chatice! A TV nada tem. O que tem, prefiro não ver. A comida fica pronta no meio da tarde quente. A comida fria. Não tem suco. Não tem gelo. Tudo como a água, sem gosto, sem cor, necessariamente chata. É domingo.

Moral da história: a Lebre é mais rápida, mas a Tartaruga é a protagonista.

Postar um comentário

1Comentários

  1. O que achou da crônica? Em breve, haverá mais no blog. Mas, enquanto isso, leia as outras clicando em "Crônicas" no menu. Obrigado!

    ResponderExcluir
Postar um comentário

#buttons=(Ok, vamos lá!) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar sua experiência. Políticas de Cookies
Ok, Go it!