QUERO EXPLODIR A LINGUAGEM - Crônica

Guilherme Silva Vanderley
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Um mar da Cornualha e um barco de trabalho - Charles Napier Hemy (inglês, 1841–1917)

De fato, eu queria dizer tudo que fosse possível, tudo que estivesse ao meu alcance e também tudo aquilo que as minhas mãos não pudessem tocar. Queria dizer sobre o cansaço e sobre a energia dos átomos, queria dizer sobre o espaço e eu disse, queria entender a química ou a física, nada sei, nem mesmo o básico. Eu queria mesmo era escrever poesia sobre tudo, a todo instante, cada vez maiores e melhores, mais detalhadas, mais explicativas, mais e mais e mais. Textos tão grandes que o espaço não seria suficiente, da folha, o universo, que se exploda!

Mas, eu não sei escrever poesias gigantes, trovadorescamente ridículas, epopeiamente formatadas, cordelisadamente rimadas, não sei. Sim, eu escrevo cordéis, e daí? A poesia que me define não é aquela em sextilhas, com sílabas erradas, é aquela mínima frase em que exponho meu mundo inteiro. Cada vez menor. Preguiça? Creio que não. Apenas quero cada vez mais, como se sentisse um ódio pelas linhas, esmagar e esmagar cada poema, cada estrofe, cada verso, cada silába poética, cada sílaba fonética, cada morfema, cada desenho, cada som e cada significado ou sentido que se tenha.

Quero explodir a linguagem. Quero dizer um mundo sem nada dizer, quero não ter nada a dizer e mesmo assim gritar tudo que quero ao mundo inteiro. Minha poesia em paradoxo. Como um giroscópio, manter-me sempre na mesma direção. E qual? Todas elas. Mesmo sendo tão patético dizer palavras carregadas de todo o meu querer e, simultaneamente, tão poético eu ser o poeta das palavras gentis e carregadas de todo o meu querer. Sempre em aflição, sempre na contramão, enfrentando os meus pensamentos, a mim mesmo.

Quero ressignificar todas as palavras e eliminar todos os sentidos e significados possíveis; quero cortar pela raiz a interpretação; quero apagar os sentidos; quero explodir a linguagem. Tintim por tintim, até nada sobrar. Meus poemas tão curtos, tão turvos, às vezes, me prendem, por vezes, me soltam, me transformam em poeta, em poetisa, em poema e poesia. E as crônicas? Foda-se às crônicas! Me diga um cronista. Quem foi? Quem liga? Quem lê?

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1Comentários

  1. O que achou da crônica? Em breve, haverá mais no blog. Mas, enquanto isso, leia as outras clicando em "Crônicas" no menu. Obrigado!

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