
Três anos após ver as estrelas, pela janela, eu olhava para o mar, ele tinha uma coloração diferente, flutuava entre o azul e o laranja. Percebi, era o nascer do sol, as primeiras horas do dia, que dia? Um dia que sai por aí, sobre rodas e buracos na estrada, ao lado da vegetação que passava rápido, enfurecia os meus olhos que se recusaram a focar, astigmatismo selvagem, orgulho cruel.
Os minutos, as horas passavam e o mar pouco se movia. As cores iam, aos poucos, alterando-se, e mesmo assim, parecia sempre o mesmo. Havia, nele, uma vegetação rupestre, como rocha, imóvel. Ao longe, um navio se aproximava, parecia colidir com as pequenas ilhas que lá estavam. Para onde ele iria?
As curvas na estrada eram sinuosas e diabólicas, tiravam, pouco a pouco, dos meus olhos, suas cores, suas formas. Intrigado. Curioso pelas ilhas que o cercam, imaginei não ser o mar, um rio talvez. Faria mais sentido, pensando geograficamente. Mas, qual rio? Araguaia, Tocantins etc.
Imaginei, então, como seria nadar naquele misterioso e infinito rio, será profundo? Não aprendi a nadar nos tempos de eu menino. Em uma reta, a velocidade aumenta, as rodas saltam, os buracos se fecham, a vegetação, ao lado, torna-se uma grande mancha de tinta em tons de verde. E o que resta?
Selvagem e orgulhoso, porém, fraco demais para manter-me cego. Forcei, quase sem querer, meus olhos em si mesmos, e passei a ver o que realmente era. Somente o laranja amarelado do sol, que terminava sua viagem entre continentes, contrastando com o reflexo dos verdadeiros mares na escuridão agora celeste do céu.

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